quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Diários de uma Fronteira - Preâmbulo e Capítulo Um

Diários de uma Fronteira - Preâmbulo e Capítulo Um

Diários de uma Fronteira

Romulo V. Braga

á castora.

Isso é uma história de ficção.

Preâmbulo

Leitor... Eu espero, faço, imagino e penso. Qualquer coisa é vida.

Escrever é sinceridade que o cinismo não consegue alcançar.

Essa trajetória...

Diante de olhos estranhos, há crédito perante a vida e os outros homens?

A reposta é: tempo. Fazer o que se permite ser possível, sob a pena do Nada.

Tudo foi história, e nada estava errado.

E eis tudo.


Capítulo um.

Numa noite, sozinho no meu quarto, eu estava lendo ou escrevendo algo, quando minha irmã me disse:

- Você tem certeza?

Olhei para trás e a vi parada perto da porta. Seus olhos estavam cerrados naquele ponto que quer mostrar preocupação, e havia uma luz laranja ao fundo:

- Por quê? – perguntei.

- Por que você vai fazer isso?

Eu respondi que nada mais me interessava na vida a não ser conhecimento em geral. Eu costumava a dar essa resposta nessa época. Era a frase de um pensador inglês. Cinco anos depois, porém, todo aquele conhecimento parecia inútil, apesar de pesado. Eu estava tão burro como sempre.

E preguiçoso.

domingo, 17 de agosto de 2008

A história de "Dias" não vai sair mais por aqui. Estou reescrevendo-a inteira.
Primeiro vou terminar a história de Arthur, irmão mais novo de Tim.
Enquanto isso, preciso saber o que vou fazer com o "adeus fronteira". Mas, o blog não está morto.

terça-feira, 11 de dezembro de 2007

02 - Dias - Tim D.

- Eu dormi...

Tim procurou um adjetivo, mas ele não veio. E foi um alívio ele não ter vindo.

Apoiou-se sob os cotovelos na cama, apertou bem os olhos, abriu a boca e olhou pela janela. “Quem estou fingindo ser, agora? ... John Lennon?”pensou.

Era um sensação ruim ter acordado. Embora se sentisse bonito e pronto para excitação da vida “as pernas de Tina”, Tim tinha um gosto amargo no boca. Gosto de pesadelo recente. Alguma coisa estava errada, certo? O tempo correu rápido dentro do seu estômago. Ansiedade e suco gástrico.

“Esse meu fígado nunca prestou mesmo. Que horas são?”.

Um relógio. Rápido. Mesa, criado mudo, sacada. Nada. Mas, não era preciso. O sol havia deixado a praia, e o amarelo da tarde era uma rosa escuro. Seis horas.

“Eu dormi mais ainda.”

Tina não veio. Não ligou. “Ligou e eu não acordei? Poxa, pelo menos deixasse um recado. Ligar para o quarto”.

Tim ficou maluco. Toda a raiva e despreparo voltaram. “Ah, que ótimo. De que adiantou tanto conhecimento, experiência e meditação? Ainda sou um pré-adolescente com voz rasgada e gordo”.

Colocou qualquer camisa e foi novamente para o bar do hotel.

Encontrou pessoas ricas e aquele ar de desconhecidos, mas tudo estava perdido. Nada era familiar naquele bar.

Procurou pela luz dos cabelos de Tina. Suas pernas. Nada. O bar podia ser muitas coisas para muitas pessoas, mas, para Tim, com sua bermuda surrada e seu camisa social branca, aquele bar, hotel, praia, etc, era apenas ausência de Tina.

“Um telefone”. – pensou.

O barman não gostou muito da pressa de Tim quando o deixou usar o telefone do bar.

Estava com raiva de si mesmo, com os dentes ansiosos e princípio de suor na testa. Sentiu a lembrança pesada da pele de Tina, seus lábios, suas roupas moderninhas e ficou maluco. Ela podia estar aqui. Devia estar aqui.

Mas, não estava.

O telefone tocou uma vez . Duas vezes. Na quinta vez ele colocou as mãos na testa. Seu olhar estava perdido nas garrafas na parede do balcão, parado nos rótulos que Tim não enxergava. Ele não estava ali no bar, nem segurando o telefone. O vazio do mundo era óbvio, a realidade do balcão, do chão e do barman iam derretendo secamente. A única coisa restante era Tina, que não estava lá.

Tim desligou o telefone e foi andando mais uma vez para praia. Agora já entendia sua situação e não alimentou a dor. A orla marítima era bem feita e civilizada. Havia pouca vida nas pessoas que encontrava, mas sabia que superaria isso também.

Para a esquerda ou para direita era uma questão menor. Se importar com isso também, e ficar perdido e sem rota menos ainda. Era uma situação muito familiar a sua. Apenas o silêncio o aguardava.

Colocou as mãos no bolso da camisa a procura de cigarros. Estavam no quarto. Colocou as mãos no bolso da bermuda e estava vazio. Parou olhando para frente para analisar essa nova situação. Andou mais cinqüenta metros até sentar numa mureta que ficava ao longo do caminho.

Uma garota de seis anos passou por ele tomando sorvete, mas não notou Tim. Sua mãe também passou e cantarolava sozinha. Tim as notou, no entanto, não arrastou nenhum pensamento para isso.

“Só posso suspirar, agora. E esquecer essa loucura. É o que devo fazer. Meu corpo não agüenta mais agüentar nada”.

Pensou isso e ficou em silêncio, então...

Como alguma bolha de sabão quente explodindo na garganta, teve que admitir sua próxima escolha.

“Vou voltar para casa, então”.

Um impulso de paixão torceu seu estômago, e ele teve aquele seu reflexo particular. Ficou irritado com isso. A concentração dos últimos dias tinha evaporado de vez.

“Nada de paz, agora, amigo” – e acrescentou - “Odeio você, Tina”.

“Ok, sentir raiva é humano. Sou humano, oras. Droga...”

Olhou para as próprias mãos. Eram belas mãos. Jovens, mas pesadas. Olhou para o chão, e seus olhos pesaram com peso de sua cabeça.

“Depois de tanta merda, não posso exigir mais nada.Mas, essa paixão vai passar. Eu sei. Mas...”

Ele não queria que acabasse. Estava ótimo sofrer por Tina. Ela tinha as pernas mais doces que provara, e o beijo mais...

“Fogos de artifício. Como aquele aos quinze anos”.

Mas,a vida estava lá. Na praia, na menina, no sorvete, na música. Eram distantes, mas Tim já enxergava sua silhueta.

“Odeio você, Tina” – repetiu.

Levantou-se austero. O som da noite era baixo. O passo de Tim era forte. Se estava cansado de lutar, pensou...

“Vou parar de inventar guerras”.

sábado, 8 de dezembro de 2007

01 - Dias - Tim D.

Tim D. estava num estado curioso. Estava calmo e pacífico, sem impaciência e bem consigo mesmo. Era uma fase diferente dos seus anos fora do país. Aquilo era uma loucura, pensou ele, mas tão distante. Faz tanto tempo .

Olhou para a praia do seu quarto de hotel, e viu a prata da areia e o amarelo do sol. O som lá de fora era harmônico. Tim sorriu e olhou para seus pés descalços, colocou as mãos na cintura bem desenhada e magra. Estava apenas de shorts e estava sozinho.

Sentou-se na mesa que ficava quase ao lado daquela sacada, e começou a escrever seu parágrafo:

"Vou começar esta carta escrevendo um pouco sobre essa mulher da minha vida. Em dezembro eu vou me embora novamente e não sei o que vai acontecer depois disso. Tina é o som da minha garanta que mais gosto. E o final do sabor ao dizer seu nome tem gosto de amoras. Eu não como amoras há anos. "

Tim suspirou. Sentiu o sol acariciar sua pele jovem e continuou:

"Estou ansioso pela luz que explode por dentro.

É desejo...É verdade. Mas, é meu. E é iminente.

Agora, depois de tanto ímpeto, sua presença é um mito. Tanta beleza, cabelos loiros, pela lisa e sorrisos...Uma repetição cuja escala é quase bíblica.

Olha o tamanho da encrenca. Veja o tamanho da criação. Nesses sonhos, nem meu dou o direito á concretizar tudo... Ela está lá no pedestal...no meio do caminho para cima. Ela deve descer de lá.

Esquecer as estrelas...e esperar pela tarde quando a verei”.

"Esquecer as estrelas" era o que Tim sabia que teria que fazer. Mas as estrelas já estavam descendo, desvanecendo, caindo do céu sem dramas ou exposição. Por muito tempo Tim vivera por lá. O ar nas estrelas é rarefeito, difícil de respirar. Talvez seja por isso que adorava o ar daquela praia.

Continuou...

"Tudo que quero, é tocá-la no peito e não pensar em nada depois disso. Encostá-la perto do pescoço e dormir tranqüilo. Passar essas tardes aqui com ela, sem dizer nada e sentir-me... Bem. A palavra certa é essa: bem".

O furor existia, Tim sabia disso, mas sentia uma harmonia ao tentar controlá-lo. Pela primeira vez era um homem comum de verdade, e pela primeira vez sentia-se em paz com isso. Uma gota de lembrança veio ao seu encontro. Aquela sombra, feia, muito feia...Era uma mola, sempre voltava..Mas estava fraca. Acho que Tim começou a chorar agora. Lembrou-se, enfim, de 1997. Do exílio. “Por quê? Ah, meu deus, quanta dor”.

O telefone tocou. E Tim colocou os dedos entre o nariz, tomando fôlego e recompondo-se.

“Oi” – falou a voz de uma jovem.

“Oi...!” – respondeu Tim aliviado.

“É Tina. Tudo bem?”

“Eu sei que é você. Tudo...e você?”

“To bem...Então. Estou passando aí quatro e meia. Tudo bem?”

“Claro. To te esperando”.

“Então, Ta. Beijo. Tchau”.

“Beijo...Até mais”.

Era fácil a vida. Simples. Bastava um telefonema, uma loira linda, uma história, um café às quatro e meia. Tim não podia suportar tanta alegria. Na verdade, podia. Sentou-se na cadeira de barriga pra cima, alisando-a. Acendeu um cigarro, mas achou besteira. Tomou água enquanto ia á sacada.

Pensou profundamente em Tina, deixando seu pensamento se inflar com a presença dela.

Quanto impulso. Voltou para máquina e escreveu.

"Eu só preciso desse sorriso dela, ficar perto. Centímetros estaria ótimo. E alguns beijos pequenos. Você não sabe com estou feliz escrevendo essa carta. Queria que você estivesse aqui, Dalto. Você é o amigo mais extraordinário que já tive. E fez o favor de não morrer apesar de tudo que passamos.

O sol está quente, e às vezes reclamo dele, mas em boa parte, ele é uma benção. Nunca mais quero passar frio nessa vida. E a praia...é o lugar mais silencioso do mundo. Estou feliz aqui. Espero que você também. Como está Júlia e o menino? Tina acabou de ligar. Eu a amo. Acho que podemos recomeçar tudo. Apesar de J.J e depois daquela história...Você sabe. Eu sonho com os cabelos dela e aqueles meus pesadelos se foram. Tudo que sinto e toco são seus braços, costas e pernas. Queria que ela reconsiderasse. Eu queria muito isso realmente"

Querer sempre foi um problema para Tim, principalmente depois do seu ataque. Mas Tina organizava seus pensamentos. Ele sabia exatamente o que queria pela primeira vez. Ela queria Tina, Tina e Tina. Ele não repensaria. Estava exausto de pensar. Exausto...Repetiu em voz alta:

Exausto...

Mas Tina veio novamente e lhe salvou o dia. Ele sorriu como um menino.

Continuou a escrever: "Estou exausto. Como essas férias vieram a calhar...a calhar...Essa nossa vida. Eu estou rindo nesse momento. Tina, eu te amo. Rio novamente. Amo, amo, amo. Ainda rio. Dalto, eu amo essa garota. E nem penso mais em sumir. Vou voltar para casa, e depois me vou embora. Não está mais em minhas mãos. Mas quero-a de volta antes que tudo acabe.

Se cuida, Dalto, vejo você no final do ano."

Tim D.

O rapaz levantou-se da mesa e olhou novamente para o sol. Decidiu que precisava ir para praia antes de ver Tina. Estava ansioso agora. Parecia uma bomba. E palpitava. Ainda era jovem, mas surrado. Suspirou profundamente uma última vez o ar da sacada, virou-se, pegou seus óculos escuros em cima da cama, abriu a porta do quarto e foi até o elevador. Atravessou o salão do hotel, e enquanto ia para as escadarias da saída, deu uma espiada no bar, imaginando o futuro encontro.

A praia era ainda de prata e o sol ainda amarelo quente e confortável. Tim deitou-se na areia da praia, e sentiu, como sabia que iria sentir, aquele silêncio e aquela proximidade consigo mesmo que só acontecia quando ouvia as ondas e experimentava o macio calor das areias.

Tim dormiu por quarenta e cinco minutos. Eram três e meia quando decidiu voltar para o hotel. Logo que passou pela entrada encontrou Moira no bar.

“Senta aí, Tim. Toma uma bebida comigo”.

Tim sentou-se. Era uma cadeira confortável. Uma tarde confortável.

“Então? Você volta conosco nessa sexta?”

“Hmm.. Ah, não sei não”.

“O que foi?”

“Tina. Vou me encontrar com ela”.

“Onde?”

“Aqui. Daqui a pouco”.

“Ela não vai para Londres?”

Tim balançou a cabeça. “No final de dezembro”.

“Meu deus” – disse Moira, tomando um gole de sua bebida – “Londres é a cidade mais babaca do mundo”.

“É mesmo”.

“Eu não acredito que você vai fazer isso. Não acredito mesmo”.

TIm ficou em silêncio. Olhando para o suco de maracujá gelado que Moira estava tomando.

“Realmente não acredito. Ah, droga. Não quero nem saber”.

“Vou tomar um banho” disse Tim levantando-se.

Moira torceu o bico. E terminou seu suco. “Volte com a gente na sexta. É o seu irmão, droga”.

“É..Te mais”.

Moira não respondeu.

TIm voltou para o quarto, mas estava triste e sedento. Estava pensando em Tina, e no momento, isso doía um pouco. Ela estava longe demais, perto das estrelas. Ele a colocou lá.