terça-feira, 11 de dezembro de 2007

02 - Dias - Tim D.

- Eu dormi...

Tim procurou um adjetivo, mas ele não veio. E foi um alívio ele não ter vindo.

Apoiou-se sob os cotovelos na cama, apertou bem os olhos, abriu a boca e olhou pela janela. “Quem estou fingindo ser, agora? ... John Lennon?”pensou.

Era um sensação ruim ter acordado. Embora se sentisse bonito e pronto para excitação da vida “as pernas de Tina”, Tim tinha um gosto amargo no boca. Gosto de pesadelo recente. Alguma coisa estava errada, certo? O tempo correu rápido dentro do seu estômago. Ansiedade e suco gástrico.

“Esse meu fígado nunca prestou mesmo. Que horas são?”.

Um relógio. Rápido. Mesa, criado mudo, sacada. Nada. Mas, não era preciso. O sol havia deixado a praia, e o amarelo da tarde era uma rosa escuro. Seis horas.

“Eu dormi mais ainda.”

Tina não veio. Não ligou. “Ligou e eu não acordei? Poxa, pelo menos deixasse um recado. Ligar para o quarto”.

Tim ficou maluco. Toda a raiva e despreparo voltaram. “Ah, que ótimo. De que adiantou tanto conhecimento, experiência e meditação? Ainda sou um pré-adolescente com voz rasgada e gordo”.

Colocou qualquer camisa e foi novamente para o bar do hotel.

Encontrou pessoas ricas e aquele ar de desconhecidos, mas tudo estava perdido. Nada era familiar naquele bar.

Procurou pela luz dos cabelos de Tina. Suas pernas. Nada. O bar podia ser muitas coisas para muitas pessoas, mas, para Tim, com sua bermuda surrada e seu camisa social branca, aquele bar, hotel, praia, etc, era apenas ausência de Tina.

“Um telefone”. – pensou.

O barman não gostou muito da pressa de Tim quando o deixou usar o telefone do bar.

Estava com raiva de si mesmo, com os dentes ansiosos e princípio de suor na testa. Sentiu a lembrança pesada da pele de Tina, seus lábios, suas roupas moderninhas e ficou maluco. Ela podia estar aqui. Devia estar aqui.

Mas, não estava.

O telefone tocou uma vez . Duas vezes. Na quinta vez ele colocou as mãos na testa. Seu olhar estava perdido nas garrafas na parede do balcão, parado nos rótulos que Tim não enxergava. Ele não estava ali no bar, nem segurando o telefone. O vazio do mundo era óbvio, a realidade do balcão, do chão e do barman iam derretendo secamente. A única coisa restante era Tina, que não estava lá.

Tim desligou o telefone e foi andando mais uma vez para praia. Agora já entendia sua situação e não alimentou a dor. A orla marítima era bem feita e civilizada. Havia pouca vida nas pessoas que encontrava, mas sabia que superaria isso também.

Para a esquerda ou para direita era uma questão menor. Se importar com isso também, e ficar perdido e sem rota menos ainda. Era uma situação muito familiar a sua. Apenas o silêncio o aguardava.

Colocou as mãos no bolso da camisa a procura de cigarros. Estavam no quarto. Colocou as mãos no bolso da bermuda e estava vazio. Parou olhando para frente para analisar essa nova situação. Andou mais cinqüenta metros até sentar numa mureta que ficava ao longo do caminho.

Uma garota de seis anos passou por ele tomando sorvete, mas não notou Tim. Sua mãe também passou e cantarolava sozinha. Tim as notou, no entanto, não arrastou nenhum pensamento para isso.

“Só posso suspirar, agora. E esquecer essa loucura. É o que devo fazer. Meu corpo não agüenta mais agüentar nada”.

Pensou isso e ficou em silêncio, então...

Como alguma bolha de sabão quente explodindo na garganta, teve que admitir sua próxima escolha.

“Vou voltar para casa, então”.

Um impulso de paixão torceu seu estômago, e ele teve aquele seu reflexo particular. Ficou irritado com isso. A concentração dos últimos dias tinha evaporado de vez.

“Nada de paz, agora, amigo” – e acrescentou - “Odeio você, Tina”.

“Ok, sentir raiva é humano. Sou humano, oras. Droga...”

Olhou para as próprias mãos. Eram belas mãos. Jovens, mas pesadas. Olhou para o chão, e seus olhos pesaram com peso de sua cabeça.

“Depois de tanta merda, não posso exigir mais nada.Mas, essa paixão vai passar. Eu sei. Mas...”

Ele não queria que acabasse. Estava ótimo sofrer por Tina. Ela tinha as pernas mais doces que provara, e o beijo mais...

“Fogos de artifício. Como aquele aos quinze anos”.

Mas,a vida estava lá. Na praia, na menina, no sorvete, na música. Eram distantes, mas Tim já enxergava sua silhueta.

“Odeio você, Tina” – repetiu.

Levantou-se austero. O som da noite era baixo. O passo de Tim era forte. Se estava cansado de lutar, pensou...

“Vou parar de inventar guerras”.

5 comentários:

Anônimo disse...

parabéns.

desculpe-me.

Anônimo disse...

o romilinho tem um blog...
muito bem escrito.

Babalu disse...

posso falar?

acho que simpatizei com a Tina (acho que, aliás, só eu - o resto do mundo odeia ela). O Tim é muito 80, embora isso não faça dele bad person...

mas oquei.
Ao menos é legal de ler.
(embora homem de shorts me lembre sempre um cara maluco que vez ou outra me persegue e me dá arrepios... brrr...)

Anônimo disse...

bom, eu nunca usei shorts, então, não deve ser eu esse maluco...

Stella Boni disse...

Comentário Bauru Jóia esse do Romulo!
Realmente achei muito gostoso de ler ... é assim que homem apaixonado pensa quando está esperando?hehe Não sei, me faz lembrar uma pessoa ansiosa ...