sábado, 8 de dezembro de 2007

01 - Dias - Tim D.

Tim D. estava num estado curioso. Estava calmo e pacífico, sem impaciência e bem consigo mesmo. Era uma fase diferente dos seus anos fora do país. Aquilo era uma loucura, pensou ele, mas tão distante. Faz tanto tempo .

Olhou para a praia do seu quarto de hotel, e viu a prata da areia e o amarelo do sol. O som lá de fora era harmônico. Tim sorriu e olhou para seus pés descalços, colocou as mãos na cintura bem desenhada e magra. Estava apenas de shorts e estava sozinho.

Sentou-se na mesa que ficava quase ao lado daquela sacada, e começou a escrever seu parágrafo:

"Vou começar esta carta escrevendo um pouco sobre essa mulher da minha vida. Em dezembro eu vou me embora novamente e não sei o que vai acontecer depois disso. Tina é o som da minha garanta que mais gosto. E o final do sabor ao dizer seu nome tem gosto de amoras. Eu não como amoras há anos. "

Tim suspirou. Sentiu o sol acariciar sua pele jovem e continuou:

"Estou ansioso pela luz que explode por dentro.

É desejo...É verdade. Mas, é meu. E é iminente.

Agora, depois de tanto ímpeto, sua presença é um mito. Tanta beleza, cabelos loiros, pela lisa e sorrisos...Uma repetição cuja escala é quase bíblica.

Olha o tamanho da encrenca. Veja o tamanho da criação. Nesses sonhos, nem meu dou o direito á concretizar tudo... Ela está lá no pedestal...no meio do caminho para cima. Ela deve descer de lá.

Esquecer as estrelas...e esperar pela tarde quando a verei”.

"Esquecer as estrelas" era o que Tim sabia que teria que fazer. Mas as estrelas já estavam descendo, desvanecendo, caindo do céu sem dramas ou exposição. Por muito tempo Tim vivera por lá. O ar nas estrelas é rarefeito, difícil de respirar. Talvez seja por isso que adorava o ar daquela praia.

Continuou...

"Tudo que quero, é tocá-la no peito e não pensar em nada depois disso. Encostá-la perto do pescoço e dormir tranqüilo. Passar essas tardes aqui com ela, sem dizer nada e sentir-me... Bem. A palavra certa é essa: bem".

O furor existia, Tim sabia disso, mas sentia uma harmonia ao tentar controlá-lo. Pela primeira vez era um homem comum de verdade, e pela primeira vez sentia-se em paz com isso. Uma gota de lembrança veio ao seu encontro. Aquela sombra, feia, muito feia...Era uma mola, sempre voltava..Mas estava fraca. Acho que Tim começou a chorar agora. Lembrou-se, enfim, de 1997. Do exílio. “Por quê? Ah, meu deus, quanta dor”.

O telefone tocou. E Tim colocou os dedos entre o nariz, tomando fôlego e recompondo-se.

“Oi” – falou a voz de uma jovem.

“Oi...!” – respondeu Tim aliviado.

“É Tina. Tudo bem?”

“Eu sei que é você. Tudo...e você?”

“To bem...Então. Estou passando aí quatro e meia. Tudo bem?”

“Claro. To te esperando”.

“Então, Ta. Beijo. Tchau”.

“Beijo...Até mais”.

Era fácil a vida. Simples. Bastava um telefonema, uma loira linda, uma história, um café às quatro e meia. Tim não podia suportar tanta alegria. Na verdade, podia. Sentou-se na cadeira de barriga pra cima, alisando-a. Acendeu um cigarro, mas achou besteira. Tomou água enquanto ia á sacada.

Pensou profundamente em Tina, deixando seu pensamento se inflar com a presença dela.

Quanto impulso. Voltou para máquina e escreveu.

"Eu só preciso desse sorriso dela, ficar perto. Centímetros estaria ótimo. E alguns beijos pequenos. Você não sabe com estou feliz escrevendo essa carta. Queria que você estivesse aqui, Dalto. Você é o amigo mais extraordinário que já tive. E fez o favor de não morrer apesar de tudo que passamos.

O sol está quente, e às vezes reclamo dele, mas em boa parte, ele é uma benção. Nunca mais quero passar frio nessa vida. E a praia...é o lugar mais silencioso do mundo. Estou feliz aqui. Espero que você também. Como está Júlia e o menino? Tina acabou de ligar. Eu a amo. Acho que podemos recomeçar tudo. Apesar de J.J e depois daquela história...Você sabe. Eu sonho com os cabelos dela e aqueles meus pesadelos se foram. Tudo que sinto e toco são seus braços, costas e pernas. Queria que ela reconsiderasse. Eu queria muito isso realmente"

Querer sempre foi um problema para Tim, principalmente depois do seu ataque. Mas Tina organizava seus pensamentos. Ele sabia exatamente o que queria pela primeira vez. Ela queria Tina, Tina e Tina. Ele não repensaria. Estava exausto de pensar. Exausto...Repetiu em voz alta:

Exausto...

Mas Tina veio novamente e lhe salvou o dia. Ele sorriu como um menino.

Continuou a escrever: "Estou exausto. Como essas férias vieram a calhar...a calhar...Essa nossa vida. Eu estou rindo nesse momento. Tina, eu te amo. Rio novamente. Amo, amo, amo. Ainda rio. Dalto, eu amo essa garota. E nem penso mais em sumir. Vou voltar para casa, e depois me vou embora. Não está mais em minhas mãos. Mas quero-a de volta antes que tudo acabe.

Se cuida, Dalto, vejo você no final do ano."

Tim D.

O rapaz levantou-se da mesa e olhou novamente para o sol. Decidiu que precisava ir para praia antes de ver Tina. Estava ansioso agora. Parecia uma bomba. E palpitava. Ainda era jovem, mas surrado. Suspirou profundamente uma última vez o ar da sacada, virou-se, pegou seus óculos escuros em cima da cama, abriu a porta do quarto e foi até o elevador. Atravessou o salão do hotel, e enquanto ia para as escadarias da saída, deu uma espiada no bar, imaginando o futuro encontro.

A praia era ainda de prata e o sol ainda amarelo quente e confortável. Tim deitou-se na areia da praia, e sentiu, como sabia que iria sentir, aquele silêncio e aquela proximidade consigo mesmo que só acontecia quando ouvia as ondas e experimentava o macio calor das areias.

Tim dormiu por quarenta e cinco minutos. Eram três e meia quando decidiu voltar para o hotel. Logo que passou pela entrada encontrou Moira no bar.

“Senta aí, Tim. Toma uma bebida comigo”.

Tim sentou-se. Era uma cadeira confortável. Uma tarde confortável.

“Então? Você volta conosco nessa sexta?”

“Hmm.. Ah, não sei não”.

“O que foi?”

“Tina. Vou me encontrar com ela”.

“Onde?”

“Aqui. Daqui a pouco”.

“Ela não vai para Londres?”

Tim balançou a cabeça. “No final de dezembro”.

“Meu deus” – disse Moira, tomando um gole de sua bebida – “Londres é a cidade mais babaca do mundo”.

“É mesmo”.

“Eu não acredito que você vai fazer isso. Não acredito mesmo”.

TIm ficou em silêncio. Olhando para o suco de maracujá gelado que Moira estava tomando.

“Realmente não acredito. Ah, droga. Não quero nem saber”.

“Vou tomar um banho” disse Tim levantando-se.

Moira torceu o bico. E terminou seu suco. “Volte com a gente na sexta. É o seu irmão, droga”.

“É..Te mais”.

Moira não respondeu.

TIm voltou para o quarto, mas estava triste e sedento. Estava pensando em Tina, e no momento, isso doía um pouco. Ela estava longe demais, perto das estrelas. Ele a colocou lá.

2 comentários:

Anônimo disse...

oi!
muito bom! e seu texto está ótimo.
continue escrevendo!^^
alana

Anônimo disse...

Prefiro permanecer no anonimato ao comentar essa história.
Muito legal, e até parece um desabafo. O primeiro passo para ficar com uma mulher é tirá-la do divino altar que costumamos colocar, não é?
Belo conto.